Transformações tecnológicas e eficiência energética foram temas de debates na ABM WEEK
O contexto de profundas transformações pelas quais a indústria minerometalúrgica e de materiais tem passado nos últimos anos, sobretudo no que se refere às tecnologias empregadas nos processos produtivos e à sua matriz energética, foi debatido em diferentes mesas-redondas ao longo da 6ª edição da ABM WEEK, realizada entre 7 e 9 de junho em São Paulo.
Os encontros, que reuniram especialistas da academia e da indústria, demonstraram que o ritmo de implementação de novas tecnologias tem se acelerado cada vez mais, determinado pela necessidade de reduzir custos e aprimorar a automatização da produção.
No que tange à introdução de novos combustíveis e à busca por eficiência energética superior, o desenvolvimento de alternativas está relacionado à necessidade de atingir as metas de redução de emissões de carbono estabelecidas internacionalmente, com marcos em 2030 e 2050. Tudo isso tem alterado amplamente as feições da indústria – e vai continuar alterando cada vez mais nos próximos anos.
Uma das palavras de ordem nos debates sobre inovação tecnológica foi a Indústria 4.0. As novas ferramentas que comumente são a ela associadas apareceram em destaque em algumas das discussões, como foi o caso da mesa-redonda Aplicações de IoT na mineração.
acordo com Ricardo Augusto Rabelo Oliveira, professor de Ciência da Computação na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e especialista em Indústria 4.0, o Brasil vive hoje um momento fundamental para a aplicação de ferramentas de IoT na indústria, com a introdução da tecnologia 5G de telefonia celular.
“O uso de sensores de controle industrial não é algo próprio da Indústria 4.0, pois já estava consolidado em fases anteriores. Com o 5G, temos agora a possibilidade de transmissão de dados em volume suficiente para entrarmos de vez na nova fase”, Oliveira explicou.
O debate, de que participaram Luís Alberto Ferreira Dutra e o moderador André Wulff Hirano, ambos da Anglo American, incluiu casos concretos de implantação de IoT e outras inovações disruptivas nas atividades da indústria da mineração.
“O processo ainda é um pouco incipiente. Mas algumas unidades de empresas têm adotado tais ferramentas em caráter experimental. A Vale, por exemplo, tem uma mina perto de Belo Horizonte em que os caminhões são tele-operados”, Oliveira exemplifica.
Na mesa-redonda Indústria 4.0 - Uso de dados e analíticas na gestão da segurança em aciarias, a discussão apontou os diferentes usos que as novas tecnologias de dados têm apresentado na produção de aço, sobretudo no que se refere à segurança das plantas e dos trabalhadores.
“A Indústria 4.0 tem se feito presente no monitoramento de áreas supervisionadas, nas vestimentas inteligentes, nos sistemas de mitigação de riscos e na visão de projeto pensando em segurança, desde a concepção dos equipamentos e processos até sua instalação”, afirma Guilherme Frederico Bernardo Lenz e Silva, professor de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Universidade de São Paulo (USP).
Lenz e Silva também ressalta a grande oportunidade que a indústria brasileira vive neste momento com a introdução da tecnologia 5G. “É a hora de quem ainda não fez a migração passar a utilizar essas ferramentas nos seus processos e sistemas de gestão de segurança”, ele aponta.
Grandes players do setor, entretanto, já têm casos bem-sucedidos de implantação de tecnologia de dados à segurança na produção siderúrgica, o professor explica.
“Ficou nítido na mesa-redonda, com a participação não só de fornecedores, mas também de grandes empresas, que a Inteligência Artificial já está sendo aplicada à segurança operacional e de processos”, Lenz e Silva argumenta.
O encontro contou com a participação de Sandro de Souza Santos, da ArcelorMittal Tubarão, Leandro Silvino Crivellari, da Ternium, Thiago Norio Nakata, da Gerdau, Marco Ometto, da Danieli Automation, e Frank Kolmbauer, da Primetals.
As soluções em nuvem, que são uma contrapartida natural à adoção de IoT e IA nos processos produtivos, também prometem revolucionar o tratamento e a gestão de dados na indústria minerometalúrgica. O assunto foi discutido na mesa-redonda Quebrando paradigmas – soluções de nuvem para TA/TI, de que participaram Bojan Jozić, da Primetals Technologies Áustria GmbH, Marco Righetti, da Oracle Brasil, e Thiago Turchetti Maia, da Vetta/SMS Group.
“O sistema em nuvem é adaptável e modular, de acordo com as novas necessidades. Não estamos falando de sistemas caros, com gastos recorrentes, mas anuais. Vejo boas possibilidades de aplicação na indústria de aço”, afirmou no encontro Bojan Jozić.
Além da Indústria 4.0, a necessidade premente de descarbonizar a indústria minerometalúrgica e de materiais é outro fator que tem acarretado gigantescas transformações, com a introdução de novas tecnologias e combustíveis.
A mesa-redonda Gás natural: insumo estratégico para a siderurgia, abordou as aplicações do combustível na produção de aço e a decorrente redução de emissões de carbono.
“A reforma recente da regulação do mercado de gás fez com que ele esteja deixando de ser um insumo energético para a indústria e passando a assumir um papel estratégico, contribuindo para a redução de custos”, explicou Juliana Rodrigues de Melo Silva, especialista de energia da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), durante o encontro.
Com a recente quebra do monopólio da Petrobrás na produção de gás natural, o mercado tem se transformado rapidamente. Em janeiro de 2022, de acordo com Melo Silva, havia dez novos fornecedores, os quais estavam ofertando gás natural por um preço 40% menor do que a Petrobrás.
De acordo com Pedro Zagury, gerente de tecnologia e aplicações da White Martins, a indústria siderúrgica caminha cada vez mais na direção de descarbonizar toda sua cadeia de valor, o que tem exigido a mudança de “uma série de medidas e processos tecnológicos para que sejam atendidas as metas parciais de 2030”.
“Já temos tecnologias consolidadas para aplicações na siderurgia, como é o caso da oxicombustão, em que se utilizada oxigênio puro nos processos de combustão, gerando economia de combustíveis, aumento de produtividade e redução de carbono”, explica Zagury.
O segundo passo será a utilização de hidrogênio nos processos de redução, o que “vai demandar volumes de hidrogênio e de energia verde muito grandes”, ele aponta.
“Estamos nos posicionando com nosso know-how e nossos produtos para atender o que nossos clientes de siderurgia têm buscado”, ele conclui.
A 6ª edição da ABM WEEK tem a Gerdau como anfitriã e conta com o patrocínio das seguintes empresas: Açokorte, Air Liquide, Alkegen, Amepa GmbH, Aperam, ArcelorMittal, Atomat Services, AutoForm, BM Group/Polytec, BRC, Braincube, CBMM, CEMI, Combustol, Clariant, Danieli, Dassault Systèmes, DME Engenharia, Eirich, Enacom, Engineering, Evonik, Fosbel, GSI, Harsco, Hatch/CISDI, Ibar, Imerys, IMS Messsysteme GmbH, Isra Vision Parsytec, John Cockerill Industry, Kuttner, Metso Outotec, Nalco Water/Ecolab, Nouryon, Primetals Technologies, PSI Metals, Reframax , RHI Magnesita, Saint-Gobain, SMS Group Paul Wurth/ Vetta, Spraying Systems, Suez, SunCoke, Tecnosulfur, Ternium, Timken, Thermo Fischer, TopSolid, TRB, Unimetal, Usiminas, Vale, Vamtec, Vesuvius, Villares Metals, Wallonia.be (ADI – Industrial Services, John Cockerill Hydrogen, BorderSystem, Datanet International, Synthetis e PEPITe), White Martins e Yellow Solution. Apoio especial: CNPq. Apoio institucional: Abal, Abendi, AIST, AIST Mena, Alacero, Casa de Metal, CBCA, Elsevieir, Ibram, ICZ e Instituto Aço Brasil. Apoio de mídia: CIMM e Ind4.0
Texto: Eduardo Campos Lima
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