ABM - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração

Soluções às crises hídricas devem fazer parte da transição energética no Brasil

Estudo indica que o sistema elétrico nacional está vulnerável às mudanças climáticas.

As recentes crises hídricas vivenciadas no Brasil mostram como o sistema elétrico nacional, responsável por 10% da produção hidrelétrica mundial, está vulnerável às mudanças climáticas.

Ao não considerar adequadamente as alterações do clima, o planejamento elétrico nacional está contando com um recurso energético, representado pelo histórico de precipitação de chuvas, que pode não ocorrer, obrigando a tomada de medidas emergenciais que encarecem e poluem a matriz elétrica, como verificado na crise hídrica de 2021.

Segundo o estudo “Vulnerabilidades do Setor Elétrico Brasileiro Frente à Crise Climática Global”, lançado pela Coalização Energia Limpa, o Brasil ainda não tem uma política concreta para enfrentar os impactos das mudanças climáticas sobre seu sistema elétrico.

Embora o Brasil seja um país que lidera a transição energética por ter uma matriz elétrica 83% renovável, a produção de energia elétrica é muito dependente da hidrologia, uma vez que 60% da energia produzida é proveniente das hidrelétricas.

Quando há escassez de chuva, como em 2021 (a pior crise hídrica dos últimos 91 anos), a solução adotada é acionar ou contratar novas termelétricas, quase sempre movidas a gás natural importado – investimento que vai na contramão das políticas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Outra medida adotada pelo Brasil é ampliar os investimentos em linhas e sistemas de transmissão e distribuição de energia, a fim de maximizar o uso dos recursos energéticos.

No entanto, essa política resulta em maiores custos para a população, o que impacta o desenvolvimento social e econômico. O desafio do setor, portanto, é ser mais resiliente ao clima sem poluir a matriz elétrica ou transferir custos para os consumidores.

Segundo o estudo, é urgente a construção de um novo modelo para o setor elétrico, sendo a melhor opção um sistema hidro-solar-eólico, contrastando com o atual hidro-termo-eólico.

Isto permitiria a redução dos custos da energia elétrica e uma maior competitividade global dos produtos brasileiros, o que, por sua vez, contribuiria para a retomada da economia e a redução das desigualdades sociais.

Entre as soluções apontadas no estudo, estão:

  • A interrupção de investimentos em novas hidrelétricas, principalmente se forem usinas a fio d’água, como a UHE Tapajós, prevista para depois de 2030;
  • Aplicar mais recursos para diversificação da matriz, não apenas investindo em eólica e solar, mas também em novas tecnologias como armazenamento (baterias), hidrogênio verde, hidrelétricas reversíveis e sistemas distribuídos, como a geração solar distribuída;
  • Incentivar pesquisas em tecnologias de armazenamento de energia;
  • Elaborar um plano de resiliência do SIN (Sistema Interligado Nacional) considerando os segmentos de geração, transmissão e distribuição; e
  • Considerar o acréscimo de novas termelétricas fósseis só em caráter emergencial e temporário.

O documento foi elaborado pelos pesquisadores José Wanderley Marangon Lima, professor titular voluntário da UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá), consultor da MC&E e Secretário de P&D do INEL; José Antonio Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Modelagem, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden); e Lincoln Muniz Alves, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e Autor Líder do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), a pedido do ClimaInfo.

A Coalização Energia Limpa é formada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Instituto ClimaInfo, IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente), INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos), Instituto Internacional Arayara e Instituto Pólis.

Clique aqui para ler a íntegra do estudo.

Fonte: Canal Solar

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