Regulação e aplicações de coprodutos da mineração são discutidas em workshop da ABM
O empobrecimento progressivo das lavras brasileiras ao longo das últimas décadas tem acarretado uma produção cada vez maior de rejeitos. Ao mesmo tempo, a demanda crescente por sustentabilidade está levando as mineradoras a investirem em uma ampla gama de soluções para lidar com eles.
O workshop Economia circular na mineração – Soluções baseadas em modelos de negócio, organizado como parte do pré-evento da 6ª edição da ABM WEEK no dia 6 de junho, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), reuniu profissionais que têm liderado o debate sobre o assunto nas empresas, universidades e centros de pesquisa e em organizações não-governamentais.
Uma das premissas compartilhadas por todos os presentes é que não se pode mais falar em rejeitos, já que eles são materiais cuja variada composição pode e deve ter diferentes aplicações.
“Houve uma mudança de mentalidade. Não se trata mais de subproduto nem rejeito. É um outro produto”, explicou Caio Moreira Van Deursen, da Nexa Resources.
A empresa produz e comercializa o Zincal, feito a partir dos rejeitos da planta de zinco em Morro Agudo (SP) e empregado para correção de acidez do solo. Além disso, a companhia produz fosfogesso e cimento utilizando os materiais decorrentes da exploração de minas.
Na Vale, a área de novos negócios tem utilizado as 80 milhões de toneladas de rejeitos geradas anualmente para produzir diferentes materiais.
“Não existe uma vocação única para o rejeito, já que as possibilidades são múltiplas. É preciso reaproveitar o máximo possível do que a mineração gera, com olhar para a construção, a indústria e outras possibilidades de geração de valor agregado”, afirmou Mariana Dumont, engenheira na Vale.
Ela argumentou que nenhuma empresa tem interesse em receber materiais não processados, ainda que de graça.
“As organizações buscam soluções, ou seja, querem produtos. Por isso é preciso desenvolvê-los”, ela declarou.
O processo envolve uma série de desafios, já que não existe uma legislação específica para rejeitos no país, de forma que as empresas de mineração precisam aditar os termos relacionados a cada novo produto gerado com base neles.
As alternativas encontradas pela indústria só atingem o sucesso – e se tornam viáveis e duradouras – se elas puderem gerar lucro, argumentou Sandra Lúcia de Moraes, pesquisadora do IPT.“Caso contrário, serão soluções que não sairão do papel”, ela explicou.
Tais estratégias fazem parte da concepção de economia circular, ideia muito debatida na COP21 e que envolve novos modelos de consumo e novos atributos de durabilidade e qualidade de produto, explicou Beatriz Luz, da Exchange 4Change Brasil.
“A otimização dos processos tem chegado ao limite. Não basta mais pensar em eficiência apenas. Precisamos pensar em efetividade e novas formas de consumir”, ela explicou durante o workshop.
Fabio Perlatti, da Agência Nacional de Mineração (ANM), contou que o Brasil tem avançado nos últimos anos no que diz respeito à regulação dos rejeitos. Recentemente, a ANM publicou sua primeira resolução sobre o assunto.
“Acredito que o caminho passe pela união do setor e pela busca de alternativas para regular esse assunto”, ele disse durante o encontro.
A ideia de que a ABM pode funcionar como organização chave para empresas que estão desenvolvendo o segmento de coprodutos foi defendida pela consultora Vania Lúcia Lima de Andrade, conselheira da ABM.
Acho que estamos vivendo um momento novo. É preciso buscar a integração de nossas forças e a ampliação de nossa representatividade junto aos órgãos reguladores”, ela afirmou.
Leal Barbosa Filho, presidente executivo da ABM, confirmou que a Associação está pronta a cumprir tal papel. “A ABM pode ser um hub para que esse trabalho que está sendo discutido aqui seja desenvolvido”, ele afirmou.
Vania lembrou que os maiores riscos institucionais às empresas de mineração envolvem a chamada licença social para operar, que se relaciona com o impacto potencial de suas atividades na comunidade envolvente.
Nesse aspecto, o uso dos coprodutos na produção de novos insumos é fundamental para evitar possíveis problemas futuros relacionados à gestão de rejeitos, ela explicou.
Os biossólidos, por exemplo, podem ser combinados com outros materiais em compostos úteis diferentes aplicações, incluindo restauração de áreas degradadas pela mineração.
“A reconstrução do solo exige rejeitos e resíduos. Sem matéria orgânica não é possível restaurar tais solos”, explicou Rodrigo Studart Corrêa, professor da Universidade de Brasília (UNB).
Nesses casos, os coprodutos da mineração contribuem para a recuperação de áreas impactadas pela própria atividade, o que de alguma maneira contribui para fechar o ciclo aberto pela exploração das lavras.
A 6ª edição da ABM WEEK tem a Gerdau como anfitriã e conta com o patrocínio das seguintes empresas: Açokorte, Air Liquide, Alkegen, Amepa GmbH, Aperam, ArcelorMittal, Atomat Services, AutoForm, BM Group/Polytec, BRC, Braincube, CBMM, CEMI, Combustol, Clariant, Danieli, Dassault Systèmes, DME Engenharia, Eirich, Enacom, Engineering, Evonik, Fosbel, GSI, Harsco, Hatch/CISDI, Ibar, Imerys, IMS Messsysteme GmbH, Isra Vision Parsytec, John Cockerill Industry, Kuttner, Metso Outotec, Nalco Water/Ecolab, Nouryon, Primetals Technologies, PSI Metals, Reframax , RHI Magnesita, Saint-Gobain, SMS Group Paul Wurth/ Vetta, Spraying Systems, Suez, SunCoke, Tecnosulfur, Ternium, Timken, Thermo Fischer, TopSolid, TRB, Unimetal, Usiminas, Vale, Vamtec, Vesuvius, Villares Metals, Wallonia.be (ADI – Industrial Services, John Cockerill Hydrogen, BorderSystem, Datanet International, Synthetis e PEPITe), White Martins e Yellow Solution. Apoio especial: CNPq. Apoio institucional: Abal, Abendi, AIST, AIST Mena, Alacero, Casa de Metal, CBCA, Elsevieir, Ibram, ICZ e Instituto Aço Brasil. Apoio de mídia: CIMM e Ind4.0
Texto: Eduardo Campos Lima
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