ABM - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração

Parceria entre Minas Gerais e Holanda busca soluções para barragens

Iniciativa do Governo holandês promove intercâmbio entre mineradoras brasileiras e empresas do país para que boas práticas em descomissionamento de barragens sejam aqui aplicadas.

Uma parceria público-privada capitaneada pelo Governo da Holanda está abrindo mercado para as empresas do país aqui no Brasil. Neste ano, um dos focos do programa, chamado de Partners for International Business (PIB), têm sido o segmento minerário, mais precisamente na disseminação de tecnologias para contenção de barragens. Um cluster formado por essas empresas está em Minas Gerais para se reunir e, possivelmente, fechar contratos com as maiores mineradoras que aqui atuam.

Para facilitar o contato com essas mineradoras, as empresas, em conjunto, abriram um escritório em Belo Horizonte (MG). Elas fazem parte do Dutch Technical Team for Dam Safety (DTTD), cuja tradução livre seria Equipe Técnica Holandesa para Segurança de Barragens. A equipe reúne gestores e especialistas da Antea Group, Arenal, Trisoplast, Rohr-Idreco, InTech, Van Sonsbeek Hulst. O DTTD é o braço privado da parceria. O público é conduzido pelo Escritório Holandês de Apoio aos Negócios, ou Netherlands Business Support Office (NBSO), também na capital mineira, que atua diretamente para que as rodadas de negociação aconteçam.

“Nosso interesse é, antes de tudo, colaborar para que o know how holandês em contenção de barragens possa aperfeiçoar a segurança das operações de mineração no Brasil”, diz Hans Blankenburgh, representante-chefe do NBSO. “Claro que há um lado comercial importante, mas o intuito do PIB é promover intercâmbio de conhecimento, levar inovação e expandir boas ideias, ações que fazem parte da nossa trajetória como povo”.

Hans explica que a Holanda, ao longo de sua história, precisou evoluir muito nos processos de construção de diques, por conta das enchentes frequentes. Elas ocorriam devido às características territoriais do país, que tem um terço de suas áreas abaixo do nível do mar e metade com no máximo um metro acima deste nível. São 17 mil quilômetros de barragens e diques, espalhados em todas as regiões.

“Hoje, por conta do que aprendemos e criamos, não sofremos mais com esse problema”, explica Luisa Gouvêa Rates, também representante do NBSO. “Podemos aprender muito com a experiência brasileira em mineração e, em conjunto com a expertise holandesa em segurança de barragens, podemos unir esforços para trazer soluções seguras para uma mineração mais sustentável ”.

Sobre estruturas de proteção, o país tem muito a oferecer. A Holanda mantém seis grandes construções para conter tempestades marítimas, entre elas a Oosterscheldekering e Maeslantkering, localizadas na ligação entre as ilhas as Schouwen-Duiveland e Noord-Beveland, na região sul. Elas fazem parte do Projeto Delta que, desde a grande inundação de 1953, têm protegido a população de inundações provenientes do Mar do Norte.

De acordo com Rijkswaterstaat (Ministério das Águas dos Países Baixos), o país possui quase 1,5 mil obras de contenção, entre diques, barragens, açudes, estações elevatórias e barreiras contra tempestades. A maior delas é o Afsluitdijk, um dique de 32 quilômetros, 90 metros de largura e 7,25 metros acima do mar, que liga a Holanda do Norte à Província de Frísia. Nos próximos 25 anos, só para a manutenção da estrutura, que resguarda a população das intempéries do Mar de Waden, o Governo holandês prevê aportes que somam € 2,1 billhões. 

Lei de monitoramento de barragens

O PIB que viabilizou a formação do cluster DTTD já é o quarto a ser realizado no país, o primeiro com foco na mineração. Os três anteriores, voltados a tratamentos de resíduos, logística marinha e modais de transportes, envolveram 17empresas parceiras e movimentaram em torno de € 1,3 milhão.

O DTTD, especial, com apoio do escritório holandês comandado por Hans, já havia realizado uma série de visitas técnicas ao longo do mês de junho. Neste mês e em agosto, representantes da Trisoplast, empresa holandesa especializada em impermeabilização de estruturas subterrâneas, realizará tratativas com mineradoras que atuam em Minas Gerais, Goiás e Pará. De acordo com o representante da NBSO, há perspectivas que haja expansão das ações para a América Latina.

A cooperação holandesa para desenvolver processos na mineração por aqui também não é recente. Há cinco anos, uma delegação do Ministério Público de Minas Gerais e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMAD), entre outros órgãos, estiveram em uma visita técnica no país europeu. Lá, conheceram empresas do segmento e o trabalho conduzido pelo Rijkswaterstaat. Dessa missão resultou o projeto de lei que indicaria um monitoramento mais rigoroso das barragens de rejeitos. Em 2018, também fruto desta visita, foi realizado um seminário Holanda-Minas Gerais em que dez empresas do país europeu indicaram soluções para gestão destas estruturas.

Há três anos, o Estado recebeu duas missões no Estado, a pedido da Agência Nacional de Mineração (ANM) e do Ministério de Minas e Energia, com a mesma proposta de intercâmbio de boas práticas para barragens de mineração. As visitas, viabilizadas pela Embaixada dos Países Baixos, foram realizadas por especialistas que formam, hoje, a equipe do DTTD.

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