ABM - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração

Noruega prepara mineração em alto mar em área do tamanho da Alemanha; projeto gera preocupações

Entusiastas defendem que mineração aumentará a oferta de materiais usados em projetos de energia renovável, mas especialistas apontam provável contaminação de metais pesados no mar

Fonte: Um Só Planeta, Rafael Faustino

A Noruega tem um plano ambicioso, e que muitos consideram potencialmente nocivo, de minerar em alto mar materiais que são considerados importantes para tecnologias de energia renovável. O governo do país pretende abrir para mineração uma área oceânica no Ártico que tem nada menos que o tamanho da Alemanha.

O Ministério do Petróleo e Energia do país propôs a abertura de uma porção de 329 mil quilômetros quadrados para a atividade. A região do Mar da Noruega visada contém quantidades consideráveis de minerais necessários para tecnologias de energia renovável, como magnésio, cobalto, cobre, níquel e outros metais.

Os investigadores encontraram esses minerais em crostas de manganês em montes submarinos e depósitos em profundidades de 700 a 4 mil metros. O estudo foi feito pela Direção Petrolífera da Noruega (NPD), agência governamental responsável pela regulamentação dos recursos petrolíferos.

O governo norueguês e as indústrias dizem que adotarão uma abordagem cuidadosa para essa mineração em alto mar. No entanto, os críticos dizem que os planos deveriam progredir mais lentamente para avaliar adequadamente o ambiente marinho e os possíveis impactos da mineração.

Após colocar o tema para discussão pública, o governo norueguês recebeu inúmeras objeções de organizações e cidadãos preocupados – e inclusive de partes do próprio poder estatal. A Agência Ambiental da Noruega, agência governamental vinculada ao Ministério do Clima e Meio Ambiente, apontou que não foram fornecidas informações adequadas sobre como a mineração poderia ser feita de forma segura e sustentável, e que essa omissão viola uma legislação criada em 2019 para pesquisar e extrair minerais na plataforma continental norueguesa.

Além disso, pesquisadores sugeriram que as plumas de sedimentos geradas pela mineração em alto mar podem ser altamente destrutivas, ao lançar metais dissolvidos em grandes áreas do oceano, o que ameaçaria os organismos e introduziria metais pesados na cadeia alimentar marinha.

Outra questão é que parte da área de mineração proposta pela Noruega está na plataforma continental de Svalbard, um arquipélago no Oceano Ártico. O Tratado de Svalbard, que 48 países ratificaram, reconhece a soberania da Noruega sobre Svalbard, mas também especifica que todos os países participantes têm “direitos iguais” para a exploração comercial da região.

A Islândia é, segundo o Mongabay, um país que já ligou seu alerta para a situação, informado ao governo norueguês que qualquer atividade de mineração estaria sujeito ao referido tratado – e que a Noruega não poderia reclamar direito exclusivo sobre os minérios ali depositados.

 

Escassez de materiais preocupa

A Loke Marine Minerals, uma das três empresas que poderiam explorar a plataforma continental da Noruega, diz que o mar profundo é “a chave” para suprir a “demanda crescente” por minerais críticos – inclusive por razões que envolvem a sustentabilidade ambiental.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), a oferta atual de minérios não dá conta do que é necessário para transformar o setor de energia rumo a tecnologias renováveis. Um estudo recente publicado na Nature Communications também sugeriu que a demanda por minerais aumentará à medida em que cresça a substituição dos veículos de combustão por outros elétricos.

“Precisamos resolver essa enorme lacuna de oferta que está chegando… e achamos que os minerais do mar profundo são o caminho certo a seguir”, disse Walter Sognnes, CEO da Loke, ao Mongabay.

Sognnes também disse que, se a Noruega decidir colocar o projeto em prática, a Loke não começaria a minerar até o início da década de 2030. Antes disso, afirma, seria necessário mapear e explorar o fundo do mar e desenvolver as melhores tecnologias possíveis. Mas, até por causa desse cronograma bastante extenso, seria importante tomar a decisão o quanto antes.

 

 

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