Lideranças da indústria e acadêmicos discutem cenário da construção metálica no Brasil e no mundo
A área de construção civil tem passado por várias transformações nos últimos anos. Inovações tecnológicas têm sido incorporadas pelo setor. E o uso cada vez maior do aço em projetos de infraestrutura e edificações tem sido uma delas. Por isso, pela primeira vez, a ABM WEEK dedicou um espaço em sua programação para discutir a questão da construção metálica.
O Painel Construção Metálica: Soluções para infraestrutura e edificações: Soluções para infraestrutura e edificações, realizado na quarta-feira (8/6), durante a 6ª edição da ABM WEEK discutiu essa questão, abordando os diferentes cenários da construção metálica tanto no Brasil quanto no exterior, expondo os vários desafios desta empreitada, assim como as soluções que estão sendo postas em práticas e diversas pesquisas em desenvolvimento sobre o tema.
Entre os benefícios dessa inovação repetidos pelos palestrantes estão uma maior produtividade, mais rapidez e melhor controle de qualidade, além da flexibilidade e fácil adaptação nos projetos. Mas principalmente o impacto mais sustentável da utilização de construções metálicas, com geração quase zero de resíduos, efeitos baixos no entorno das obras, assim como menor geração de gases de efeito estufa no uso de aço de alta resistência, como defendido pelos pesquisadores. Um fator muito importante em um momento que o setor busca cada vez mais se descarbonizar.
O evento, que foi dividido em três segmentos no decorrer do dia, abordou as demandas do mercado brasileiro e as soluções competitivas trabalhadas tanto interna quanto externamente. O debate contou ainda com a participação dos renomados especialistas internacionais Bassam Burgan, diretor do Steel Construction Institute (SCI) do Reino Unido, Prof. Carlos Rebelo, da Universidade de Coimbra, em Portugal e pesquisador no Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering (ISISE), e Luis Simões, diretor do ISISE e vice-reitor da mesmo universidade, além de Alejandro Wagner, diretor executivo da Asociación Latinoamericana del Acero (Alacero).
Na primeira etapa do encontro, mediada pelo presidente da Brafer Construções Metálicas e vice-presidente da Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM), Marino Garofani, o Prof. Ricardo Fakury, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Eduardo Zanotti, diretor executivo do Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA), expuseram um cenário complicado no Brasil quando pensamos em construções metálicas.
“A carga tributária total sobre a estrutura metálica pode ser até 148% maior em relação a estrutura em concreto realizada in loco”, afirmou Zanotti, que ainda listou a questão cultural, informações mal divulgadas sobre o tema, uma visão errada sobre os custos de operação, além da falta de mão de obra especializada e boa formação profissional como desafios do setor.
Sobre os dois últimos itens, o docente da universidade mineira foi ainda mais a fundo, mostrando como o tema é ainda pouco explorado nas instituições de ensino. “A carga horária média das disciplinas de estrutura de aço é pouca, cerca de metade da carga sobre estruturas de concreto”, explicou ele. “Mesmo engenheiros bem formados não saem prontos e preparados para o mercado”, continuou, ao falar sobre o despreparo de professores sobre o tema e a baixa capacitação que empresas oferecem sobre isso atualmente. No entanto, ambos os convidados vêem com certo otimismo o futuro do setor, com Fakury mostrando que, diferente de até poucos anos atrás, o Brasil hoje dispõe de muita literatura de qualidade sobre o assunto e uma consistente publicação de novos artigos acadêmicos. Já Zanotti trouxe ainda a última pesquisa CBCA, que mostrou um crescimento na produção e no faturamento da categoria.
Já na segunda parte do evento, dedicada às soluções competitivas no cenário internacional, Alejandro Wagner começou trazendo dados sobre o consumo de aço tanto no Brasil quanto na América Latina como um todo, em comparação a outras partes do mundo. Apesar dos números consistentes dos últimos anos no nosso país e no continente, o diretor da Alacero deixou claro o espaço que a América Latina tem para crescer, ainda mais considerando a importância do aço para que a indústria de construção seja cada vez mais uma economia de baixo carbono.
“A América Latina tem uma situação muito favorável, com abundante disponibilidade de recursos naturais e condições para implementação de projetos de energia renovável e biomassa”.
Na sequência, os pesquisadores Bassam Burgan e Carlos Rebelo, além de Luis Pupin, Global R&D Brazil da ArcelorMittal e especialista na metodologia Steligence, apresentaram as diferentes inovações que as instituições e empresa que representam vem desenvolvendo para ajudar a alavancar o setor de construção em aço. Em comum em suas palestras, os três especialistas ressaltaram os benefícios ambientais e econômicos do uso mais extensivo da liga metálica, além de apontar fatores que podem potencializar isso, como um melhor design de projetos e estruturas, um uso mais eficiente de materiais e padronizações para reusos no futuro. Burgan e Rebelo ainda trouxeram exemplos práticos do que vem sendo trabalho no SCI e no ISISE, como aplicações que minimizam o desgaste de estruturas, desenvolvimento de torres de energia eólica automontantes, geração de energia de maneira mais limpa, entre outras.
Na última etapa do painel, focada nas soluções para o mercado interno, Tomás Vieira de Lima, diretor de estrutura metálica da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece), introduziu a discussão da qual participaram Gustavo Chodraui, engenheiro calculista sênior da CODEME, e Alexandre Jordão, especialista em desenvolvimento de mercado da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).
O executivo da Abece , retomando em parte o “desafio cultural” mencionado por Eduardo Zanotti, trouxe para o debate os preconceitos que a construção metálica e estruturas de aço mistas ainda enfrentam no Brasil, como de que o material é muito caro, quando as pessoas erroneamente comparam com o concreto e não consideram o empreendimento como um todo, e equívocos como achar que a estrutura metálica não tem durabilidade pois enferruja ou que o aço amolece em caso de incêndio. Além disso, Chodraui falou sobre como contrapor esses pontos com as vantagens de produtividade e ambientais do material.
Na última palestra do dia, Alexandre Jordão trouxe o enfoque para o uso de ligas de aço microligado ao nióbio e como elas auxiliam em uma maior desmaterialização das construções, elevando ainda mais a conversa sobre a área se tornar mais sustentável. Além das aplicações em mobilidade, energia e parte estrutural, o especialista da CBMM deixou claro, como levantado nas apresentações anteriores também, a importância das ligas de aço de alta resistência para auxiliar na descarbonização da construção civil, direta e indiretamente, e como uma desmaterialização mais prática de obras e empreendimentos também segue por esse caminho necessário. “Mais do que termos materiais de alta performance, também é essencial termos no setor da construção materiais que se desmaterializam”, destacou, fechando sua exposição e o painel.
A 6ª edição da ABM WEEK tem a Gerdau como anfitriã e conta com o patrocínio das seguintes empresas: Açokorte, Air Liquide, Alkegen, Amepa GmbH, Aperam, ArcelorMittal, Atomat Services, AutoForm, BM Group/Polytec, BRC, Braincube, CBMM, CEMI, Combustol, Clariant, Danieli, Dassault Systèmes, DME Engenharia, Eirich, Enacom, Engineering, Evonik, Fosbel, GSI, Harsco, Hatch/CISDI, Ibar, Imerys, IMS Messsysteme GmbH, Isra Vision Parsytec, John Cockerill Industry, Kuttner, Metso Outotec, Nalco Water/Ecolab, Nouryon, Primetals Technologies, PSI Metals, Reframax , RHI Magnesita, Saint-Gobain, SMS Group Paul Wurth/ Vetta, Spraying Systems, Suez, SunCoke, Tecnosulfur, Ternium, Timken, Thermo Fischer, TopSolid, TRB, Unimetal, Usiminas, Vale, Vamtec, Vesuvius, Villares Metals, Wallonia.be (ADI – Industrial Services, John Cockerill Hydrogen, BorderSystem, Datanet International, Synthetis e PEPITe), White Martins e Yellow Solution. Apoio especial: CNPq. Apoio institucional: Abal, Abendi, AIST, AIST Mena, Alacero, Casa de Metal, CBCA, Elsevieir, Ibram, ICZ e Instituto Aço Brasil. Apoio de mídia: CIMM e Ind4.0
Texto: José Enrico Teixeira
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