Importação de aço em alta faz Usiminas e Arcelor anunciarem cortes na produção
O excedente de aço no mercado brasileiro, em função do aumento da importação em quase 50% do produto em 2023, grande parte desse volume vindo da China, continua causando prejuízos para a siderurgia nacional e forçando cortes na produção. Duas gigantes do setor anunciaram nesta segunda-feira (11/12) medidas nesse sentido. A ArcelorMittal confirmou que estendeu as paradas técnicas, iniciadas em novembro, de suas unidades de Resende (RJ), Piracicaba (SP) e Juiz de Fora (MG) até o fim deste ano. Já o presidente da Usiminas, Marcelo Chara, disse que o alto-forno 1, em Ipatinga, será desligado até o início de 2024, caso não haja um equilíbrio entre demanda e produção.
Nas palavras de Chara, há uma “sangria” no setor. “Há um tsunami de aço chinês no Brasil. Pleiteamos medidas do governo federal, que ainda não foram atendidas. Há risco para o emprego, para faturamento das empresas, arrecadação de impostos e em toda a cadeia produtiva do aço”, disse, em entrevista coletiva, em Ipatinga, nesta segunda-feira (11/12). Ele informou ainda que contratos com empresas terceirizadas também estão sob risco, como mais um reflexo da “concorrência desleal”, como define, que o setor enfrenta no Brasil.
Em nota, a ArcelorMittal afirma que a parada técnica em suas unidades é parte dos esforços da empresa para adequar a sua produção frente ao cenário de baixa demanda por aço no mercado doméstico e de aumento recorde das importações. “Com a parada técnica, cerca de 400 empregados de Resende vão entrar em férias coletivas ou compensação do banco de horas”, informou. “O aumento recorde da importação direta e indireta de aço tem tido impacto, cada vez maior, nas vendas internas e na produção das siderúrgicas no Brasil. Como reflexo desse cenário, a ArcelorMittal projeta uma redução de produção de 1,3 milhão de toneladas em 2023 na comparação com o ano anterior”, concluiu a nota.
Diante da concorrência, chamada de desleal pelas grandes siderúrgicas brasileiras, do aço importado, fornecido a preço subsidiado por alguns países, notadamente a China, a ArcelorMittal defende a elevação temporária da alíquota do produto importado para 25%, até que a situação se normalize no mercado interno. É o mesmo pleito que a Usiminas e outras siderúrgicas fizeram. “Por meio do Iabr (Instituto Aço Brasil), pedimos medidas de proteção do mercado interno contra a importação desenfreada. Nenhum pleito foi atendido ainda”, lamenta o presidente da Usiminas.
A Usiminas acaba de fechar um ciclo de investimento no R$ 2,7 bilhões no alto-forno 3, o maior da empresa, em Ipatinga. “Mas com a atual concorrência com importados, não temos condições de manter os três alto-fornos em operação”, completa Chara.
Segundo o Instituto Aço Brasil, as importações de aço, que já cresceram quase 50% neste ano, deve crescer mais 20% em 2024. Segundo a entidade, considerando as atuais condições de mercado, em que as importações de aço encontrem fraca resistência para ingressar no país, o Iabr prevê, para 2024, queda de 3% na produção nacional, para 30,4 milhões de toneladas, e de 6% nas vendas internas, para 18 milhões de toneladas. “Esse volume de aço estrangeiro representa uma perda de arrecadação de R$ 3,4 bilhões e de 297 mil empregos diretos e indireto. A perda potencial de faturamento do setor chega a R$ 36,7 bilhões”, informa a entidade.
Balanço negativo em 2023
A produção brasileira de aço terá queda de 8% ao final deste ano, para 31,4 milhões de toneladas. Já as vendas internas terão um recuo de 5,6%, para 19,2 milhões de toneladas. As importações fecharão o ano com um salto de 48,6% das importações, para 4,98 milhões de toneladas de produtos estrangeiros, principalmente da China. As projeções são do Iabr.
As exportações caíram 1%, para 11,8 milhões de toneladas, e o consumo aparente (vendas internas mais importação por distribuidores e consumidores) se mantém estável em 23,5 milhões de toneladas, segundo as previsões.
Em agosto, quando a disparada das importações seguiu sem sinais de inversão da tendência, o setor passou a defender, junto ao governo brasileiro, a necessidade de elevação temporária e emergencial da alíquota de importação de aço para 25%. Trata-se da mesma alíquota praticada em países como Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Chile e México. Atualmente a alíquota em vigor no país é 9,6% para a maioria dos produtos.
A China é a origem da maior parte do aço importado que ingressa no Brasil, vendido abaixo do preço de custo por determinação do governo chinês, controlador da maioria das siderúrgicas locais, em esforço anticíclico para manter a economia aquecida. Atualmente o país responde por 56,7% das importações no Brasil. O empenho de colocação do excedente de produção chinês, somado à assimetria das defesas brasileiras em comparação com outras em vigor em mercados relevantes, tornou o Brasil alvo inevitável do aço estrangeiro. Cálculos realizados peço Aço Brasil indicam que o volume de 4,98 milhões de toneladas de aço importado em 2023 representa, para o país, uma perda de arrecadação de R$ 2,8 bilhões em 2023.
Procurado, o Ministério de Indústria e Comércio ainda não se pronunciou sobre o pleito das siderúrgicas nacionais em sobretaxar o aço importado.
Fonte: O Tempo.
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