Brasil pode liderar descarbonização, afirmam participantes de painel da ABM WEEK
Para discutir a descarbonização na cadeia de produção do aço e o papel que o Brasil terá nesse processo, foi realizado o painel Tendência e sustentabilidade no iromanking no terceiro dia da 6º edição da ABM WEEK, na quarta-feira (9/6). O debate contou com a moderação do consultor José Murilo Mourão e participação de Paulo de Freitas Nogueira, diretor de vendas de minério de ferro da Vale, Klaus Peter Kinzel, vice-presidente adjunto da Paul Wurth, de Luxemburgo, José Noldin, head da CSN INOVA TECH em Tecnologia Estratégica e Descarbonização, e Wieland Gurlit, sócio sênior da consultoria McKinsey & Company. Técnicas e processos como aglomeração a frio, maior utilização de biomassa e de hidrogênio verde, o declínio do alto-forno foram os principais temas do encontro.
Em sua apresentação, Wieland Gurlit mostrou dados que colocam o Brasil como o potencial líder da descarbonização da cadeia siderúrgica mundial. O executivo da McKinsey especificou a otimização das operações existentes, ajustes com capex maior e o desenvolvimento de novas tecnologias para a neutralidade de carbono como os horizontes para a descarbonização da cadeia de aço.
Entre essas tecnologias, Gurlit aponta três como sendo fundamentais: o uso de hidrogênio verde, de biomassa como combustível, e de CCUS (captura, uso e armazenamento de carbono, na sigla em inglês). Ele ainda enfatizou que nenhuma delas será capaz sozinha de fazer o setor atingir uma emissão zero até 2050, ano em que a maioria dos países pretende chegar a esse patamar, dadas as variadas viabilidades técnicas e econômicas, a escala em que podem ser postas em prática e a percepção da comunidade científica e da sociedade sobre cada uma.
E como o Brasil pode se tornar a liderança desse processo? Com a utilização de hidrogênio verde em processos com ferro HBI, e de biomassa com ferro gusa. A alta disponibilidade de fonte de energias renováveis em território brasileiro colocaria o país como um ator muito competitivo na produção de hidrogênio verde, elemento que ainda terá um baixo fornecimento europeu. Além disso, Gurlit aponta que apesar da capacidade elevada de geração de biomassa brasileira, os processos terão que mudar em comparação com o que os “guseiros” fazem atualmente.
Já o representante da CSN, José Noldin, destacou outra função brasileira importante para o mercado internacional, quando se trata de exportação de minério de ferro de alta qualidade, ainda mais tratando-se de uma necessidade cada vez maior de aumentar porções de pelotas nas cargas. O executivo da Companhia Siderúrgica Nacional frisou que, apesar da importância da descarbonização e do setor se tornar mais sustentável, deve-se tomar cuidado para evitar o que ele chamou de “anemia verde”. Para isso, ele já enxerga algumas soluções, como novas tecnologias que já estão pegando tração, o processo de transformação acelerado pelo hidrogênio, o ironmaking tornando-se um verdadeiro negócio a parte da produção de aço, entre outros. Tudo isso para enfrentar alguns desafios que já se apresentam, como a necessidade de altos investimentos em infraestrutura, limitações de materiais crus, além de pontos como regulação e legislação.
Falando especificamente da abordagem para mitigação de emissões de CO2 para altos-fornos, Klaus Peter Kinzel, da Paul Wurth, explicou o porquê dessa tecnologia ainda ser a preferida do mercado, citando motivos como já ser um processo amadurecido e de produtividade comprovada, sua flexibilidade com ferros carregando outros materiais crus, e o uso de combustíveis fósseis que a tornam menos dependentes de redes de energia. Tratando-se da descarbonização desse sistema, e com a questão dos combustíveis fósseis em mente, a exploração de rejeitos de hidrogênio e do uso de hidrogênio verde e gás natural são alguns dos caminhos para isso. “A biomassa é uma fonte de energia chave para a descarbonização da indústria do aço”, citou também o executivo.
Já Paulo Nogueira trouxe uma importante colaboração para a discussão ao tratar sobre a aglomeração a frio na sinterização do minério de ferro, e as análises sendo realizadas pela Vale acerca desse processo. Além das vantagens práticas disso, como a ampla possibilidade de aplicação, a alta capacidade de manuseio e baixa degradação e a diminuição da necessidade de investimento em novas plantas de extração, Nogueira destacou também os pontos positivos da aglomeração a frio no aspecto ambiental, como o menor uso de água e combustíveis fósseis e também a baixa emissão de partículos e gás carbônico, contribuindo também para a tendência de descarbonização.
Independente dos processos e tecnologias escolhidos, tanto na extração do minério quanto no processamento do ferro, os palestrantes do painel concordaram que é necessário tornar o ironmaking cada vez mais sustentável. E de maneira cada vez mais rápida, dado os prazos que a maioria dos países estabeleceram para uma neutralidade de carbono.
A 6ª edição da ABM WEEK tem a Gerdau como anfitriã e conta com o patrocínio das seguintes empresas: Açokorte, Air Liquide, Alkegen, Amepa GmbH, Aperam, ArcelorMittal, Atomat Services, AutoForm, BM Group/Polytec, BRC, Braincube, CBMM, CEMI, Combustol, Clariant, Danieli, Dassault Systèmes, DME Engenharia, Eirich, Enacom, Engineering, Evonik, Fosbel, GSI, Harsco, Hatch/CISDI, Ibar, Imerys, IMS Messsysteme GmbH, Isra Vision Parsytec, John Cockerill Industry, Kuttner, Metso Outotec, Nalco Water/Ecolab, Nouryon, Primetals Technologies, PSI Metals, Reframax , RHI Magnesita, Saint-Gobain, SMS Group Paul Wurth/ Vetta, Spraying Systems, Suez, SunCoke, Tecnosulfur, Ternium, Timken, Thermo Fischer, TopSolid, TRB, Unimetal, Usiminas, Vale, Vamtec, Vesuvius, Villares Metals, Wallonia.be (ADI – Industrial Services, John Cockerill Hydrogen, BorderSystem, Datanet International, Synthetis e PEPITe), White Martins e Yellow Solution. Apoio especial: CNPq. Apoio institucional: Abal, Abendi, AIST, AIST Mena, Alacero, Casa de Metal, CBCA, Elsevieir, Ibram, ICZ e Instituto Aço Brasil. Apoio de mídia: CIMM e Ind4.0
Texto: José Enrico Teixeira
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