Aperam suspende novos investimentos no Brasil e atribui decisão ao aço importado
Maior produtora de aço inoxidável da América Latina, a Aperam South America suspendeu novos projetos de investimento no Brasil, que ultrapassam a casa de R$ 500 milhões. A companhia atribuiu a decisão ao excedente de aço importado, sobretudo da China, no mercado brasileiro e à queda das vendas na região. Com a iniciativa, a siderúrgica posterga a nova fase do plano de investimentos iniciado em 2021.
O valor dos projetos suspensos não foi revelado, mas sabe-se que o pacote iria superar o plano em execução no país, que soma R$ 588 milhões, no maior desembolso planejado pela siderúrgica com sede em Luxemburgo.
Conforme a companhia, o projeto que será adiado inclui a instalação de um novo laminador a frio de bobinas de alta produtividade, o que a consolidaria como referência global na indústria siderúrgica 4.0, em linha com os requerimentos para a transição energética e eletrificação do setor automotivo.
Durante a execução do projeto, até 1,5 mil vagas temporárias seriam geradas, informou, em nota. “Nos deparamos com um cenário muito desafiador, que nos leva a repensar nossos planos de expansão para os próximos anos. Devido a uma questão de sustentabilidade do negócio, vamos reavaliar esse projeto”, diz na nota o presidente da Aperam South America, Frederico Ayres Lima.
Para o executivo, a entrada “massiva” de aço chinês no mercado brasileiro, combinada à redução da demanda com a desaceleração da economia mundial, “está asfixiando o setor siderúrgico nacional”.
Apenas em setembro, segundo o Instituto Aço Brasil, as importações de aço da China saltaram 133,8% na comparação anual, para 549 mil toneladas. Em aços inoxidáveis e elétricos, que são carro-chefe da Aperam, as importações cresceram 18% no primeiro semestre, mas a queda de mais de US$ 800 por tonelada nas cotações, em meio a uma política predatória de preços, comprometeram “seriamente os projetos de longo prazo da empresa”.
“Justificar novos investimentos na usina, mesmo com todo o diferencial da produção sustentável da Aperam, está se tornando cada vez mais desafiador. Os números não batem”, afirma, acrescentando que a produção da siderúrgica no país tem pegada de carbono bem menor do que a chinesa.
Para o executivo, a situação é “muito séria e insustentável” e representa “uma grande ameaça à continuidade da produção nacional”. A indústria siderúrgica brasileira pede ao governo a elevação da alíquota de importação de aço para 25%, como fizeram Estados Unidos, Europa e México.
“Se isso não for feito imediatamente, a indústria siderúrgica não voltará a funcionar sustentavelmente, e medidas amargas que estão sendo tomadas, como a redução de produção, demissões, adiamento ou cancelamento de investimentos irão continuar”, acrescenta Ayres Lima.
Fonte: Valor Econômico
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