Agenda ESG avança na mineração do Brasil, diz estudo
O ESG, a descarbonização e a licença para operar estão entre as principais preocupações das mineradoras brasileiras. É o que diz a edição 2022 do estudo “Riscos e Oportunidades de Negócios em Mineração e Metais no Brasil”, lançado nesta quarta-feira (25/05) pela EY, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
O estudo produzido no Brasil é uma adaptação do material global desenvolvido anualmente pela EY, a partir de informações coletadas no mês de março com executivos das dez principais mineradoras atuantes no país. Seu objetivo é mostrar o caminho que o Brasil deverá seguir para se manter relevante na cadeia global de mineração e metais, de modo que a geração de valor decorrente possa contribuir para o desenvolvimento da sociedade.
As informações mostram que o ESG se tornou mais presente na agenda dessas empresas com o avanço da pandemia de Covid-19 e que a indústria de mineração incrementou a presença da sigla em seu core business. E repetindo o cenário do ano anterior, as oportunidades seguem superando os riscos previstos para o setor em 2022, que, no ano passado, faturou R$ 339 bilhões - equivalente a um crescimento de 62% em relação a 2020, impulsionado pelo aumento dos preços das commodities no mercado global e de 7% no volume de minério produzido.
Entre os executivos consultados, a opinião mais comum é a de que o setor precisa se esforçar mais em prol de melhorias de imagem ou reputação e na forma como vem se comunicando. Isto porque ainda há muita resistência e desconhecimento de grande parte da população -- principalmente nas comunidades locais onde as mineradoras operam - sobre o que a atividade representa para o país, como funciona a gestão dos impactos ambientais e que tipo de benefícios ela traz para a sociedade.
“O desafio ambiental tornou-se mais evidente nos últimos anos, gerando uma postura mais rígida das mineradoras, que ainda têm muito trabalho a fazer em termos de descomissionamento de barragens alteadas a montante, além de profundas mudanças no campo regulatório relativo a essa gestão e operação. As informações apontadas no estudo deixam evidente que os projetos de extração têm de evoluir para minimizar cada vez mais os riscos associados ao meio ambiente”, diz o sócio-líder de Mineração e Metais da EY na América do Sul, Afonso Sartorio.
“A mineração representada pelo IBRAM está plenamente engajada com a agenda ESG global. Ao falarmos em ESG em nosso setor, estamos tratando de iniciativas muito concretas, com metas, ações e métricas que podem ser acompanhadas por toda a sociedade: usar menos água; priorizar recursos renováveis para gerar energia; respeitar e ouvir as comunidades; preservar o meio ambiente; desenvolver excelência em governança e em segurança operacional, entre outros pontos”, diz o diretor-presidente do Ibram, Raul Jungmann.
Os executivos do setor também apontaram os principais temas que precisam estar presentes na pauta de discussões com o governo. Entre eles estão o impacto da carga tributária sobre a indústria da mineração (55%), a atração de investimentos estrangeiros (30%), a precificação do carbono (30%) e a mudança nas leis para acelerar a conceção de licenças (25%).
Perfil da mineração brasileira
Além do aumento de 62% no faturamento em 2021, na comparação com 2020, os dados do Ibram mostram que a indústria de mineração e metais no Brasil também gerou alta de 62,3% na arrecadação de impostos em 2021, totalizando R$ 117 bilhões, bem como aumento de 8% na criação de empregos, totalizando quase 15 mil novas vagas, somando cerca de 200 mil empregos diretos no encerramento do ano. No primeiro trimestre de 2022, a indústria da mineração teve o seguinte desempenho: produção estimada em 200 milhões de toneladas; faturamento de US$ 56,2 bilhões; e recolhimento de US$ 19,4 bilhões de tributos.
Na observação dos números relacionados aos produtos extraídos do solo brasileiro, o principal deles -- o minério de ferro - somou, sozinho, 357,7 milhões de toneladas e US$ 58 bilhões em exportações em 2021. No ano passado, o ouro, o cobre e o calcário também contribuíram para esse desempenho ao apresentarem resultados relevantes. No primeiro trimestre de 2022, a produção estimada de minério de ferro foi de 72,3 milhões de toneladas e as exportações totalizaram US$ 6,4 bilhões.
Por apresentar grandes reservas de outros minérios, entre os quais estão a bauxita e o manganês, e ser capaz de atender a uma demanda crescente por cobre ou grafite, por exemplo, as perspectivas para o setor no país são muito animadoras. Mas para manter um papel relevante na cadeia global de minérios, o Brasil precisa investir de forma contínua em diversas áreas, tais como pesquisa do subsolo para um melhor mapeamento de suas reservas, em segurança e sustentabilidade, em melhorias logísticas e na qualificação da mão de obra.
De acordo com o Ibram, a mineração brasileira deve investir US$ 40,4 bilhões nessas áreas até 2026, dos quais US$ 4,24 bilhões estão sendo alocados para demandas socioambientais e o restante destinado à produção e à infraestrutura.
Riscos e oportunidades
O estudo mostra que as oportunidades continuarão a superar os riscos na mineração em 2022, enquanto a disrupção contínua nas áreas social, tecnológica, política e econômica também induz a mudanças no setor.
Em relação às questões ESG, o impacto social é o ponto mais crítico e deverá estar na mira dos investidores em 2022, uma vez que muitos projetos de extração se encontram em áreas de baixa renda e pouco acesso aos serviços públicos. O diálogo e o planejamento em conjunto com governos e sociedade civil são oportunidades cruciais para que a instalação, a operação ou o fechamento de uma mina contribuam para o desenvolvimento local -- sem isso, é grande a possibilidade de surgirem novos problemas.
A biodiversidade foi o segundo ponto de maior preocupação na agenda dos executivos brasileiros da mineração, empatado com as questões ligadas à descarbonização, sendo este tema de diversos debates entre mineradoras e investidores em 2021 e hoje um grande fator de disrupção no setor, com riscos e oportunidades. Embora o Brasil possua uma matriz energética predominantemente renovável e baixa contribuição de emissões no âmbito global, a descarbonização deve ser analisada levando em conta os acordos firmados durante a COP-21.
O país precisará estar atento às oportunidades geradas pela economia de baixo carbono, baseadas na existência de um conjunto de minerais com potencial de alta -- como níquel, titânio, cobre e lítio -- e diversificada demanda no cenário de transição energética, decorrentes, por exemplo, do avanço dos carros elétricos e das usinas eólicas. Ao mesmo tempo, as mineradoras precisarão responder de forma adequada à pressão dos acionistas para cumprir as metas climáticas.
Por último, a obtenção de licença para operar vem se tornando uma questão cada vez mais complexa para as mineradoras. Além da necessidade de atender às exigências do governo, é necessário incluir as demandas de investidores, da sociedade civil e das comunidades próximas às minas. Para isso, é crucial não apenas o planejamento de uma série de ações que envolvam todos esses atores, visando à criação de um legado positivo para essas regiões, mas também a geração de valor de longo prazo.
Fonte: Assessoria de Imprensa do Ibram
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