A relação entre Economia Circular e Indústria no Brasil: Conheça as iniciativas que estão sendo adotadas para fomentar práticas sustentáveis
Em meio ao avanço do debate internacional sobre sustentabilidade, suscitado pelas recentes conferências climáticas e pela ação de movimentos sociais em defesa das mais diversas causas ambientais, tem ganhado cada vez mais destaque o conceito de Economia Circular, o qual defende que o desenvolvimento econômico mundial seja alcançado por meio de processos mais sustentáveis de produção e oferecimento de produtos e serviços. Segundo o conceito, para que este patamar processual seja alcançado, instituições e empresas ao redor do mundo devem adotar medidas como a redução de resíduos produzidos e a otimização do uso dos recursos naturais.
Apesar de ser considerada como uma novidade promovida pela recente alta das tendências ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) no mercado internacional, a Economia Circular surgiu nos anos 1990, por meio do artigo acadêmico Economics of Natural Resources and the Environment - Economia dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente - dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. A profundidade e a relevância do material, elaborado para abordar o fato de a sociedade da época não incorporar a reciclagem em sua economia, acabou fazendo com que ele extrapolasse o âmbito acadêmico e se tornasse um objeto de interesse para o setor industrial, mesmo 30 anos após a sua publicação.
Conforme revela o levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no Brasil, mais de 75% das iniciativas industriais em funcionamento afirmam ter interesse em se alinhar às diretrizes da Economia Circular e dizem estar buscando adotar cada vez mais práticas relacionadas ao tema. Esse número, já expressivo, tende a crescer nos próximos anos com base no avanço da conscientização do mercado sobre a importância do tema, como ressalta Leila Kauffmann, coordenadora da Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração.
“Nos últimos anos, temos percebido que as indústrias, em sua maioria, estão adotando iniciativas de sustentabilidade ambiental diretamente relacionadas à sustentabilidade de seus próprios negócios, já que no mercado de hoje, quem não praticar a primeira, não viverá a segunda. No Brasil, estamos avançando e sendo muito estimulados pelas multinacionais que trazem suas práticas de sustentabilidade e as adaptam às nossas legislações vigentes. Em nosso país, ainda temos muitas barreiras e obstáculos a serem vencidos, tendo em vista que a prática da sustentabilidade ambiental passa pela utilização consciente dos materiais gerados, mas também por políticas públicas que permitam a Economia Circular” explica Leila Kauffmann.
Nesse processo de implantar práticas de Economia Circular no Brasil, a Indústria de Base - em especial nos segmentos de mineração, metalurgia e materiais - tem desempenhado um papel importante, tendo em vista que esses setores são responsáveis por uma parcela significativa dos resíduos gerados pelo país, comenta Leila. “No Brasil, a mineração e a metalurgia são grandes geradores de coprodutos e resíduos. As empresas já entenderam que a importância do seu negócio não está apenas no que produzem, mas também no que geram. Vemos, na maioria das vezes, as empresas com investimentos robustos na busca de tecnologias e estudos junto à academia, para redução de geração de resíduos e reutilização dos coprodutos, oriundos dos processos produtivos”, ressalta Kauffmann.
Contribuição da ABM
Atenta à importância da Economia Circular para o desenvolvimento sustentável do país e à necessidade das práticas envolvidas por este conceito serem adotadas pelo setor industrial, a Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração tem realizado uma série de atividades para incentivar pesquisas técnico-científicas sobre iniciativas e tecnologias que visem aprimorar o reaproveitamento de resíduos e a geração de coprodutos.
“A ABM conta com comissões técnicas multidisciplinares compostas pelos principais players dos setores de metalurgia, materiais e mineração, com integrantes da indústria, academia e especialistas das respectivas áreas. Como exemplo, cito a Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada, que mensalmente se reúne para tratar de temas como sustentabilidade, aproveitamento de resíduos, energias renováveis, transição energética, entre outras questões, compartilhadas por meio de experiências diversas que incluem a apresentação de cases de sucesso”, destaca Leila.
Os resultados de levantamentos, debates e ações da Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada da ABM são compartilhados com o público por meio da publicação de livros e artigos técnico-científicos, de capacitações com cursos e webinars, bem como a realização da ABM WEEK, um dos maiores eventos técnico-científicos da América Latina nas áreas de metalurgia, materiais e mineração.
*Leila Kauffmann é gerente de Coprodutos da ArcelorMittal Brasil, além de desempenhar a função de coordenadora da Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração.
Deixe seu comentário